Evento apresentou cases que mostraram as vantagens dos pré-fabricados
São indiscutíveis os ganhos em industrialização da construção. Este foi o destaque do primeiro bloco de palestras do 24ª Seminário Tecnologia de Estruturas e Fundações, realizado no formato híbrido pelo SindusCon-SP, por meio do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) e do Comitê de Meio Ambiente (Comasp) da entidade, em 30 de agosto.
Ao abrir o evento, Yorki Estefan, presidente do SindusCon-SP, destacou que “o desafio do aumento da qualidade e da produtividade das nossas obras torna-se ainda maior diante dos aumentos dos insumos e da mão de obra que enfrentamos. Precisamos ao máximo resistir a esses aumentos. Foi isso o que fizemos recentemente, e estamos conseguindo evitar desequilíbrios. Não podemos abrir mão da qualidade de nossos empreendimentos.”
Estefan ainda ressaltou o trabalho da Universidade Corporativa SindusCon-SP, as ações da entidade para mostrar aos jovens a atratividade da Engenharia moderna e agradeceu aos organizadores, palestrantes e patrocinadores do evento.
Jorge Batlouni Neto, vice-presidente de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, expressou a satisfação por um seminário técnico como o de Estruturas ter se mantido por 24 anos. Roberto Clara, coordenador do Grupo de Trabalho de Estruturas do CTQ, manifestou a satisfação pela realização do evento e citou o escritor português José Saramago: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”
Rodrigo von Uhlendorff, coordenador do CTQ, salientou que “compartilhar conhecimentos, experiências de sucesso e soluções inovadoras é um dos pilares da força do nosso sindicato. Esta é uma rotina dentro do nosso Comitê de Tecnologia e Qualidade. E, graças a ela, nossas construtoras associadas têm se fortalecido nestes tempos difíceis.”
Problemas em projetos e execução
Antonio Carlos Zorzi, membro do CTQ, fez uma apresentação bastante abrangente sobre os requisitos fundamentais para a execução de estruturas de concreto com qualidade e desempenho.
Ele mostrou exemplos de desmoronamentos de edificações, alertando que ocorreram ou por problemas de projetos (fundação; cálculo estrutural), ou por problemas de construção (deficiências nos materiais utilizados; deficiências nas técnicas construtivas; mão de obra não qualificada; deficiências no controle), ou por problemas de manutenção, ou por interferência externa ao projeto e/ou à construção (como uma reforma irresponsável; um impacto não previsto na estrutura) ou, ainda, por uma parcela de contribuição de mais de um desses itens.
Na sequência, Zorzi detalhou cada um desses problemas, mostrando uma série de exemplos de erros cometidos em diversas obras. Para evitá-los, nas etapas de projeto e construção de estruturas, recomendou: contratação de projetos e assessorias técnicas pelo critério de qualidade e não pelo menor preço; cuidados a tomar com lançamento, armadura, fôrmas, sistemas de escoramento, materiais empregados, compra e recebimento de concreto; atentar para as normas técnicas e a boa técnica construtiva; controlar a qualidade na execução e na aceitação final dos serviços, e utilizar mão de obra capacitada e comprometida. “Fazer bem feito na primeira vez é mais rápido e sai mais barato”, comentou.
Segundo Zorzi, “o grande desafio, qualquer que seja o sistema construtivo, é o da durabilidade do empreendimento, o que requer investimentos em projetos, execução, qualificação da mão de obra cada vez mais escassa, controles. Investir nas coisas certas tem chance de dar bom resultados.”
Sistema de paredes de concreto
Leandro de Castro Melo, diretor Executivo de Engenharia da HM Engenharia, apresentou o case do sistema de paredes de concreto do empreendimento Intense, em Campinas, composto por 6 torres (térreo mais 17 pavimentos cada), com 852 unidades habitacionais de 43 m², no total de 60,5 mil m² de área construída, além de um edifício-garagem.
Utilizou-se o sistema de fôrmas de alumínio da Forsa tipo Gang, composto por painéis de parede e acessórios, que são pré-montados formando módulos maiores para serem içados com grua. Com isso, diminui-se o tempo de montagem, de desforma e de movimentação dos painéis, reduz-se a mão de obra, há qualidade no alinhamento e no prumo da edificação. Foram 216 ciclos de concretagem, com 4 apartamentos por ciclo, no período de 13 meses.
“Apesar de ser mais caro, o custo é compensado pelo aumento da produtividade e pela relação de confiança com os fornecedores. O desafio ainda é industrializar outras etapas da obra”, comentou.
Ele recomendou estudos prévios, padronização dos produtos para aproveitar a vida útil da fôrma, aliar-se aos fornecedores de material e mão de obra, realizar atividades simultâneas e exercer uma boa gestão das fôrmas.
Para Melo, “é preciso atuar no planejamento anterior para todas as etapas da obra, e a industrialização é fundamental para o setor, temos que buscar essas oportunidades de industrialização e produtividade.”
Industrialização da estrutura da edificação
Luiz Fernando Bueno, coordenador adjunto do CTQ, mostrou um case de industrialização da estrutura em empreendimento comercial AAA, de 70 mil m², edificado pela Rocontec Construções e Incorporações, da qual é sócio-diretor. A obra foi contratada pela Brookfield e destinada à agência de publicidade WPP.
Ele explicou que a opção foi por soluções de pré-fabricados, em função da produtividade e da segurança no cumprimento dos prazos. Exibiu o plano de ataque, com a divisão da obra por quadrantes e a montagem por quatro equipes simultâneas. Devido à má qualidade do solo, foi necessário um projeto de resistência de carga para fazer a patolagem dos guindastes e se gastou R$ 1 milhão em rachão.
Bueno explanou sobre a montagem pelo chamado sistema “castelinho”: a partir de um núcleo rígido, a montagem vai ocorrendo de forma a ser contraventada nele. Mostrou as etapas de montagem dos pilares por guindaste, seguida da montagem das vigas, das lajes alveolares, do capeamento e da montagem das empenas, também pré-fabricadas, todas diferentes entre si, passando a seguir para a montagem da estrutura metálica.
O acompanhamento da obra foi feito via plataforma em BIM, permitindo a atualização das peças montadas em tempo real, com utilização de dispositivos móveis em campo e um sistema informatizado de análise da produtividade.
“A racionalização é essencial. Os profissionais estão ficando escassos, precisamos investir em projetos, porque a execução está cada vez mais difícil. Não temos mais mão de obra para resolver problemas na obra. Ter a pré-engenharia bem resolvida é um passo para o sucesso”, destacou Bueno.
Olho na gestão
Nos debates que se seguiram mediados por Roberto Clara, ficou patente a necessidade de a engenharia das construtoras adaptar os projetos arquitetônicos para soluções industrializadas, buscar essas soluções dentro dos custos estabelecidos via pré-engenharia e integrar as equipes de projeto, pré-fabricação e execução de estruturas. Execuções podem ser feitas por equipes terceirizadas, mas é importante sua gestão ser realizada por pessoal próprio, para garantir sua qualidade.
Ao concluir, Clara mencionou notícia do New York Times segundo a qual, com o intuito de atenuar o entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA), um outdoor foi colocado em um canteiro de obras em Antuérpia, na Bélgica, em junho, com os dizeres: “Ei, ChatGPT, finalize este prédio!”.
Saiba mais em: Meio Ambiente, Sustentabilidade e Produtividade foram temas do Seminário de Estruturas
Fonte: SindusCon-SP