A exigência cada vez maior da sociedade por desempenho acústico nas edificações tem sido um dos fatores determinantes para alavancar a chamada construção a seco. Presente com protagonismo em obras icônicas da arquitetura brasileira as soluções em Drywall e Steel Frame são requisitadas em salas de espetáculos, cinemas, museus e escolas. Nos projetos residenciais os sistemas proporcionam conforto acústico somado à leveza, flexibilidade, resistência, sustentabilidade e facilidade de instalação. Nos mais ousados oferecem plasticidade, com a possibilidade de criar bordas arredondadas e recortes.
A cultura da construção civil brasileira é formada pela mescla entre práticas, conceitos e tecnologias de escolas de arquitetura e engenharia de diferentes países. No cenário globalizado atual, de rápida troca de informações, a introdução de sistemas construtivos industrializados como Drywall e Steel Frame cresce de forma consistente no país. A exigência cada vez maior da sociedade por desempenho acústico nas edificações tem sido um dos fatores determinantes para alavancar a chamada construção a seco. Do ponto de vista de desempenho, paredes com a tecnologia Drywall podem superar as de alvenarias pela flexibilidade e possibilidade de se obter valores de índice de isolamento acústico ponderado (Rw) muito superiores a 60 dB, com elementos muito mais leves.
Presente com protagonismo em obras icônicas da arquitetura brasileira como nos elementos curvos de vedação do prédio da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre – RS; nas estruturas do Centro de Pesquisas da Petrobrás II (Cenpes II); nas divisórias internas entre as unidades do Edifício 360º, em São Paulo – SP; e no prédio da Cidade das Artes, no capital do Rio de Janeiro; as soluções em Drywall e Steel Frame são requisitadas em salas de espetáculos, cinemas, museus e escolas, locais onde se requer mudanças mais frequentes de layout.
Nos projetos residenciais os sistemas proporcionam conforto acústico somado à leveza, flexibilidade, resistência, sustentabilidade e facilidade de instalação. Nos mais ousados oferecem plasticidade, com a possibilidade de criar bordas arredondadas e recortes, que são mais fáceis de executar nas placas de gesso. Além disso, o Drywall possui alta versatilidade no trabalho de isolamento ou absorção de ruídos, onde é possível ajustar as características das chapas, composição da estrutura, adição de lãs mineral, de pet ou de vidro e fitas específicas para cada necessidade.
Segundo Carlos Roberto de Luca, gerente técnico da ABCLS – Associação Brasileira da Construção Leve e Sustentável, “o uso do Drywall está consolidado, porém, dado o tamanho do país e diferentes estágios de desenvolvimento nas várias regiões, ele não é uniforme”. Segundo ele, nas capitais a utilização é sempre maior e no Interior dos Estados é menor, principalmente, pelo desconhecimento e pela dificuldade logística. Já o uso do Steel Frame vem crescendo bastante não só na construção de casas, mas também, em habitações não residenciais e fachadas.
A aderência aos sistemas construtivos industrializados ainda é tímida no país, segundo o consultor Pablo Serrano, da Pablo Serrano Soluções Acústicas, mas tem ganhado mercado. As soluções híbridas têm se mostrado mais frequentes onde o projeto estrutural é realizado com vigas, lajes e pilares em concreto, mas os fechamentos internos são feitos em Drywall. “Temos visto sistemas de Steel Frame em edificações residenciais térreas ou de dois pavimentos e o Drywall sendo aplicado amplamente em edificações de qualquer porte, com destaque para hotéis e salas comerciais”, esclarece Serrano.
A implementação da norma ABNT NBR 15575, em 2013, impulsionou o uso dos sistemas ao exigir níveis de desempenho acústicos adequados para edificações residenciais. Nesse contexto, as paredes em Drywall levam, em determinadas situações, plena vantagem sobre a alvenaria. “Podem atingir desempenho superiores, inclusive com bem menos peso”, opina Rafael Schmitt, diretor da Scala Acústica.
“Existem tipologias onde é possível atingir isolamento na ordem de 62 dB, com uma parede de Drywall de espessura entre 160 mm a 190 mm e peso de 44 kg/m², com material absorvedor na cavidade. Já na alvenaria, para atingir este mesmo resultado, precisaria de uma parede maciça de concreto com espessura de 24 cm e com um peso de 600 kg/m²”, ressalta Schmitt.
Mesmo ainda sendo utilizada como uma solução, muitas vezes, pontual e aplicada onde a alvenaria e o concreto armado não resolvem determinadas demandas de projetos, “o uso do sistema de Drywall e Steel Frame vem crescendo no mercado brasileiro a taxas de pelos menos duas vezes as do mercado de construção tradicional. Não só em obras novas mas também em retrofits ou reformas”, afirma Douglas Meirelles, gerente de serviços ao cliente, da Placo Saint-Gobain.
Para Bárbara Fengler, coordenadora técnica da consultoria Giner, “assim como acontece nas edificações em alvenaria convencional, é fundamental a realização de um estudo detalhado nas etapas de projeto para a definição adequada e garantia do atendimento à norma ABNT NBR 15575. Nas composições de Drywall e SteelFrame, o desempenho acústico é ainda mais dependente de uma correta execução”.
Para as construções em regiões de alto ruído no entorno, próximas a aeroportos, indústrias, estações de energia, linhas de metrô e trem, o Drywall e Steel Frame são boas escolhas para fachadas e divisórias internas. “Esses sistemas têm ótimo desempenho em frequências médias e altas, sendo perfeitamente adequados para casos em que é necessário isolar ruídos com estas características. Contudo, para situações com elevados componentes de baixas frequências, pode haver a necessidade de adotar sistemas com maior densidade”, explica o engenheiro Marcelo de Godoy, sócio diretor da Modal Acústica.
Desafios técnicos da acústica
Seja em projetos convencionais ou críticos do ponto de vista da acústica, onde é necessário o máximo de desempenho, é importante observar que a performance do Drywall e Steel Frame depende da qualidade do programa, da escolha de materiais apropriados e da habilidade da mão de obra na execução. Em algumas aplicações, como paredes de carga ou em ambientes muito úmidos, a alvenaria pode ser mais apropriada, explica Lineu Passeri Junior, diretor da Passeri Acústica e Arquitetura.
“A escolha entre sistemas Drywall, Steel Frame e alvenaria deve ser baseada em necessidades específicas, no orçamento, no cronograma e nas considerações de desempenho”, completa Passeri Junior. Para ele, é aconselhável consultar um profissional qualificado em engenharia ou arquitetura para avaliar e selecionar a melhor solução para cada caso.
De acordo com Josué Arndt, gerente técnico da Knauf, detalhes executivos de instalação precisam ser devidamente observados para assegurar o desempenho acústico desejado dos componentes utilizados nas paredes desses sistemas. A atenção aos detalhes na vedação e na construção das paredes e estruturas são cruciais. Isso inclui o uso de fitas acústicas (bandas acústicas) para vedar todas as junções evitando vazamento de ruídos.
Etapas da Montagem do Sistema Drywall | Knauf Brasil
Quando se tem a segurança na especificação e projeto, um dos maiores desafios está relacionado à montagem e acompanhamento da execução das instalações, pontua Douglas Meirelles. “É necessário atenção na aplicação dos elementos que fazem interface com o sistema construtivo, como elétrica, hidráulica, ar-condicionado, entre outros”.
Quanto mais camadas o sistema tiver, melhor o isolamento acústico. E quanto mais cavidades bem dimensionadas, melhor será o isolamento sonoro. “Tudo é projetável e cada ambiente terá uma necessidade e orçamento que limita a utilização de um sistema superdimensionado, ressalta Pablo Serrano, ao falar sobre os dois mecanismos básicos de isolamento acústico em sistemas construtivos leves: o mecanismo massa-mola-massa e a lei da massa.
Rafael Schmitt exemplifica que chapas cimentícias são mais densas e, se combinadas com OSB (tiras de madeiras) ou Drywall, podem atingir isolamentos mais significativos. Segundo ele, uma tipologia com placas cimentícias, com montante de 90 mm e espessura total de 130 mm, tem isolamento de Rw 57 dB. Essa configuração, se comparada com o uso somente do gesso acartonado, com os mesmos 130 mm, pode ocasionar a perda de isolamento na casa de 5 dB, atingindo Rw 52 dB. “Quando nos aprofundamos na análise por frequência dos sistemas, observamos que o isolamento em determinadas frequências pode ser melhorado pelo uso de materiais mais espessos e densos”, ressalta Schmitt.
Além disso, o desacoplamento resiliente entre chapas e montantes, em toda a estrutura, de acordo com fontes de fabricantes internacionais que testaram essa condição em laboratório, apresentou ganhos na ordem de 2 a 3 dB, pontua Schmitt. O especialista pondera que cavidades não preenchidas podem impactar em prejuízos consideráveis de desempenho, na ordem de 5 a 7 dB.
De acordo com o manual “Desempenho acústico em sistemas Drywall“, da Associação Brasileira do Drywall, o desempenho global Rw é similar mantendo-se a mesma espessura de lã e de acordo com as densidades dos tipos, lã de vidro (LV) de 12 a 16 kg/m3 ≅ lã de rocha (LR) de 32 kg/m3.
Lãs isolantes para o Sistema Drywall
Uma parede divisória para uma sala de cinema, por exemplo, pode levar três camadas de chapa de gesso de um lado e duas do outro, um perfil metálico com vão maior e isolamento acústico com lã de vidro. A diferença do número de chapas, ou seja, a massa diferente em cada lado da parede, ajuda a quebrar a frequência sonora. Além disso, pode-se utilizar itens de amortecimento acústico que ajudam a diminuir o som de vibração.
A engenharia Bárbara Fengler orienta que é possível melhorar o desempenho acústico de um sistema de várias formas, “seja por meio da quantidade e espessura de placas, das guias e montantes, variação do tipo de estruturação, banda acústica no perímetro da parede e utilização correta de elementos de preenchimento da cavidade”.
Os componentes de preenchimento das paredes são responsáveis pelo isolamento térmico e acústico das paredes, forros e divisórias. “A não utilização desses materiais pode expor de forma crítica a passagem do ruído por pontos como tomadas e interruptores, ou ainda expor de forma crítica o ruído gerado pelas instalações hidráulicas”, explica Meirelles.
Outro elemento de grande importância é a banda acústica. Uma fita que auxilia o desempenho impedindo a passagem do som pelas frestas entre os perfis e os elementos estruturais. Pontos onde o Drywall encontra com o piso, laje e paredes. Feita de espuma autoadesiva, a aplicação pode ser realizada em todo o perímetro da estrutura de paredes.
No que se refere à absorção, além da geometria dos ambientes, é indispensável pensar em produtos que possam potencializar o desempenho, tais como, revestimentos absorvedores em madeira, lã de vidro ou ainda em fibra de madeira.
Uma das vantagens do sistema Steel Frame é sua leveza em relação à estrutura de concreto tradicional, porém, esta característica implica em uma fragilidade em relação ao isolamento a ruídos estruturais, sobretudo de lajes (steel deck), explica Marcelo de Godoy. Para ele, “os desafios mais frequentes estão relacionados a interfaces entre elementos de fachada e estrutura e entre paredes internas e lajes steel deck, que costumam utilizar chapas trapezoidais como formas”, ressalta.
Outro aspecto relevante, é o treinamento e a capacitação de profissionais de empresas fornecedoras dos sistemas e das construtoras. Somado a isso, os ensaios de acústica in loco comprovam que o sistema de vedação vertical atende os requisitos das normas técnicas, como ABNT NBR 15575 de desempenho acústico para edificações residenciais.
Para que os ensaios sejam bem-sucedidos na obra, um dos principais aspectos a ser observado é o controle das condições do entorno. Além da necessidade de se utilizar equipamentos e procedimentos que atendam as respectivas normas para cada procedimento.