Na busca pelo desempenho acústico em esquadrias, a complexidade e infinitude de possibilidades que envolvem projetos de “blindagem” sonora de ambientes diversos exigem da cadeia produtiva de fabricantes um olhar inovador, que vai além das normas técnicas. E hoje é crescente a oferta de soluções acústicas de materiais, produtos e sistemas disponíveis no mercado que auxiliam no desempenho e no tratamento acústico. São produtos mais leves, com design arrojado e soluções customizadas para cada projeto.
A complexidade desse processo envolve a concepção de sistemas que reúnam desempenho acústico por meio da formatação de contramarco, marcos e caixilhos ou folhas, integrados a componentes que consigam atenuar ao máximo a passagem de ar, água e, claro, de ruídos. O contramarco de uma esquadria é a estrutura que define o vão. É fixado na parede e o marco é o quadro visível (externo), onde ficarão encaixados os caixilhos ou folhas – elementos de vedação de portas e janelas.
Boa parte das esquadrias antirruídos utiliza vidros duplos. O sistema funciona separado por uma câmara de ar ou camada de película de polivinil butiral (PVB). São elementos de alta densidade combinados com sistemas de baixa densidade e que se caracterizam por uma combinação de massa-mola-massa mais eficientes que sistemas sólidos. As esquadrias insuladas com painéis de vidro duplo ou triplo com amortecimento geram uma câmara de ar importante no processo de atenuação sonora.
De acordo com Edison Claro de Moraes, vice-presidente de Relações com o Mercado da ProAcústica, “no Brasil as esquadrias classe A são as que conseguem isolamentos superiores ao valor do índice de redução sonora ponderado – Rw 30. Em outros países, uma esquadria acústica é definida com um isolamento superior ao Rw 35. Para definir o isolamento acústico de uma esquadria deve-se respeitar as leis das massas, frestas e frequências, usando materiais com peso, vedação e resistência adequada para o nível de isolamento desejado”.
Entre os componentes mais utilizados em janelas e portas estão as guarnições de borracha sintética, escovas de vedação e vedações automáticas de embutir. Segundo o diretor da Comfort Door, Vitor Vecchiatti, as vedações em borracha sintética possuem várias opções de materiais técnicos para atender a cada demanda ou local de aplicação e são chamadas de guarnições, perfis ou veda frestas. Estes produtos oferecem vedação para as frestas de portas e janelas e possibilitam aplicações durante o processo de fabricação ou pós-obra.
Vecchiatti ressalta que a qualidade acústica dos ambientes interfere diretamente no conforto, bem-estar, privacidade, cumprimento das regulamentações e até mesmo na saúde das pessoas. “Investir em soluções de isolamento acústico e controle de ruído é essencial para criar ambientes mais agradáveis, seguros e funcionais”, explica.
Segundo Ronaldo Valadares Castro, gerente de Mercado da Construção Civil, da empresa Perfil, “existem diversas soluções projetuais para tratamento de isolamento acústico em portas e janelas disponíveis no mercado. Alguns materiais comumente adotados incluem vidro laminado, vidro duplo, esquadrias com perfis especiais e borrachas de vedação de alta qualidade, componentes especiais de fechamento e movimentação. Sem contar com a escolha do sistema de esquadrias mais adequado. No que tange a produção dos perfis de alumínio, sem dúvidas a escolha do fornecedor deve ser avaliada”.
Sistema Sophia Silence e corte central (Fonte: Perfil Alumínio)
Portas acústicas
Para o desempenho acústico de ambientes internos, as portas acústicas são itens de primeira necessidade. Muito utilizadas no segmento hoteleiro, de saúde e residencial de luxo são compostas por multicamadas de diferentes materiais.
Para Roberto Pimentel Lopes, diretor executivo da Multidoor, “a essência do desempenho acústico da porta é a massa (grandeza física inerente à matéria). Existem soluções de portas que podem utilizar até uma manta de chumbo na composição, caso o cliente não queira muita espessura. Teoricamente é possível fazer uma porta acústica com PVC, alumínio, PET ou qualquer outro tipo de estrutura, mas as portas acústicas clássicas ainda são as de madeira. Hoje todos os materiais de madeira são feitos com múltiplas colagens, o que chamamos de madeira ‘engenheirada’”, explica Lopes.
Já as portas pivotantes e de correr não conseguem atingir desempenho acústico satisfatório. “A porta mais usual é o modelo de giro. São as que possuem a melhor relação custo-benefício”, ressalta Lopes. O Brasil utiliza alguns elementos importados na fabricação de portas acústicas, como vedações para o piso e perimetrais. “Não temos no Brasil uma solução de vedação nacional e isso encarece o produto”, pontua.
Para as portas de alto desempenho, o requisito básico é o produto sair montado da fábrica. “Não tem como tratar os componentes na instalação, já que as portas passam por ensaios em laboratórios e são certificadas após passarem por auditorias na fábrica. As amostras são levadas para o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicos), em São Paulo, e geram uma acreditação da produção. O certificado é renovado a cada 3 anos e passa por checagem de amostragens anuais. Esse estágio que a indústria atingiu representa um histórico de credibilidade, explica Lopes.
Segundo André Affonso, engenheiro acústico da Prima Ferragens, a utilização de vedações acústicas para frestas entre a porta e a soleira está condicionada a “n” fatores, que vão além da instalação do produto. “Como, por exemplo, o tipo de porta que está sendo utilizada (maciça ou acústica montada). Cada caso difere-se um do outro pelas variáveis internas de construção da porta, espessura de paredes e isolamento do ambiente. Até as variáveis externas ambientais influenciam no resultado do estudo”, explica Affonso.
No caso de portas vai e vem as vedações fixas são confeccionadas para amenizar e criar uma sensação de quebra do ruído de um ambiente para outro. Concebidas para dividir ambientes de alto fluxo de passagem de pessoas como, por exemplo, o salão principal de um restaurante da área da cozinha. Sua função principal é criar a interrupção temporária da passagem de ruído de um ambiente ao outro (até a próxima abertura da porta) e não a redução e isolamento sonoro em sua performance máxima.
O desempenho sonoro é variável de acordo com o tipo de material e montagem e com o fluxo diário de abertura da porta. As vedações acústicas para portas são testadas em laboratórios, por meio de uma porta com as vedações, construídas separando duas câmaras de reverberação. Os procedimentos de teste seguem as normas ABNT NBR 15575, ISO 140-3, ISO 354, ISO 717, entre outras. Para portas, além do veda frestas, utiliza-se produtos para vedação do vão inferior, como o veda porta automático de embutir, com grande performance acústica ou a vedação com adesivo.
“Ainda não há uma normalização no PSQ – Programa Setorial da Qualidade que solicite o desempenho de componentes acústicos como vedações acústicas para frestas entre portas e soleiras. Esperamos que futuramente haja uma normalização para que o mercado se torne mais competitivo dentro de um padrão de qualidade designado”, destaca Affonso.
Normas técnicas
A ABNT NBR 15575 completa 10 anos de existência em 2023. De acordo com Edison Claro de Moraes, desde a criação da norma o mercado de esquadrias acústicas evoluiu muito. “Hoje em dia temos diversos materiais disponíveis para o conforto acústico. O drywall, por exemplo, teve uma grande evolução no desempenho acústico dos produtos, bem como as mantas, forros, absorvedores e ressoadores que proporcionam hoje uma infinita oferta de soluções com ótimo desempenho. A norma mexeu com o segmento como um todo, pois trouxe melhorias consideráveis na performance e desempenho dos produtos. Hoje, quase toda a cadeia submete seus produtos a ensaios e constantes melhorias com o objetivo de atender a norma”, sublinha Moraes. Mesmo assim, o mercado, nesses 10 anos, não conseguiu extinguir as esquadrias com baixo desempenho acústico.
“Avançamos bastante em tecnologias com design arrojado e desempenho acústico elevado. Para portas e janelas de Rw 30dB existem diversos modelos de correr, com perfis mais minimalistas. Porém, quando se fala de altíssimo desempenho (acima de Rw 35dB), o mercado oferece soluções de perfis mais arrojados, modelos fixos, de giro e pivotantes. Progredimos bastante para a Classe A – Rw 30, temos produtos competitivos, o que representa 70% do mercado. Porém, para os 30% restantes, os custos ainda são muito elevados”, esclarece Moraes.
Já a ABNT NBR 15930 Portas de Madeira foi a primeira norma de produto do Brasil focada no desempenho, explica Lopes. Um trabalho de desenvolvimento que começou em 2003. “A indústria fabricava componentes para o mercado interno e para a exportação, mas não olhava para a porta como um conjunto que engloba o marco, o batente, a folha, as ferragens, os arremates e guarnições. Isso era algo que ficava no canteiro de obras, na mão de marceneiros. Foi nesse momento, com o advento da ABNT NBR 15930, que os fabricantes de portas começaram a fazer testes no IPT. O mercado de portas tinha quase 10 normas, cada detalhe tinha uma norma. Devido a isso, a ABNT orientou aos comitês para o desenvolvimento de uma norma única e dividida em partes e foi esse o espírito que seguimos”, pontua Lopes.
Em 2013, o mercado de portas teve a aprovação da norma ABNT NBR 15930. Para poder utilizar o selo que comprova a conformidade com os padrões estabelecidos, os produtos nacionais e importados precisam passar por uma avaliação e demonstrar que a porta atende às exigências específicas e condições de uso para o Brasil. A parte 3 da ABNT NBR 15930 trata de requisitos adicionais de desempenho, onde aborda a questão da acústica.
De acordo com Lopes, o setor normalizou não somente a porta acústica, mas, também, a porta antirradiação para hospitais, resistente ao fogo e uma série de características especiais. “Isso tudo foi resultado de estudos das normas internacionais. Onde a percepção humana com o ruído muda a partir de 3dB – um bom alcance para a mudança de classe. Outra questão importante é a econômica. Esse foi mais um motivo para termos as classes de desempenho crescente.
No caso das esquadrias, os requisitos mínimos de desempenho estão descritos na norma ABNT NBR 10821 – Esquadrias externas para edificações. A parte 4 da norma estabelece os níveis de desempenho acústico e térmico, que são informados pelos fabricantes de esquadrias às construtoras e aos consumidores, por meio de etiquetas emitidas por organismos independentes.
Os ensaios realizados em laboratório certificam o desempenho acústico de uma esquadria, fazendo com que o fabricante saiba a real eficiência de seu produto e com que o consultor possa calcular de forma adequada o desempenho dos produtos que irão compor a fachada. Além disso, faz com que a construtora contrate corretamente as esquadrias de acordo com seu desempenho. Para o cliente final, o que importa é o resultado do conjunto. Uma janela testada em laboratório faz com que o fabricante também saiba especificar o produto correto para o seu cliente.